sexta-feira, 6 de agosto de 2010

          “O essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração.”, já dizia o francês Antoine de Saint-Exupéry. É assim também em nossa missão de educar crianças e jovens. O que faz a diferença, muitas vezes, não é aquilo que está diante de nossos olhos, mas o que guardamos em nosso coração: nosso esforço, paciência, garra, persistência e atenção àqueles que têm os olhinhos abertos e curiosos por nossos ensinamentos.
          Na prática pedagógica não há receitas mágicas ou milagres: tudo acontece a partir de uma “maleta vazia”, como nos ensina Cybele Meyer, paulistana, há 18 anos moradora de Indaituba, a 102 quilômetros da capital paulista em seu conto O sucesso da mala.
          Cybele já foi professora de Educação Infantil, do Ensino Fundamental, do Médio e do superior em Pedagogia. Desde o início deste ano, se divide entre a coordenação pedagógica de uma escola e a formações de professores.



O sucesso da Mala
Por Cybele Meyer


          Respiro ofegante. Trago nas mãos uma pequena mala e uma agenda tinindo de nova. É meu primeiro dia de aula. Venho substituir uma professora que teve que se ausentar "por motivo de força maior". Entro timidamente na sala dos professores e sou encarada por todos. Uma das colegas, tentando me deixar mais à vontade, pergunta:
          - É você que veio substituir a Edith?
          - Sim - respondo num fio de voz.
          - Fala forte, querida, caso contrário vai ser tragada pelos alunos - e morre de rir.
          - Ela nem imagina o que a espera, não é mesmo? - e a equipe toda se diverte com a minha cara.
          Convidada a me sentar, aceito para não parecer antipática. Eles continuam a conversar como se eu não estivesse ali. Até que, finalmente, toca o sinal. É hora de começar a aula. Pego meu material e percebo que me olham curiosos para saber o que tenho dentro da mala. Antes que me perguntem, acelero o passo e sigo para a sala de aula. Entro e vejo um montão de olhinhos curiosos a me analisar que, em seguida, se voltam para a maleta. Eu a coloco em cima da mesa e a abro sem deixar que vejam o que há lá dentro.
          - O que tem aí, professora?
          - Em breve vocês saberão.
          No fim do dia, fecho a mala, junto minhas coisas e saio. No dia seguinte, me comporto da mesma maneira, e no outro e no noutro... As aulas correm bem e sinto que conquistei a classe, que participa com muito interesse. Os professores já não me encaram. A mala, porém, continua sendo alvo de olhares curiosos.
          Chego à escola no meu último dia de aula. A titular da turma voltará na semana seguinte. Na sala dos professores ouço a pergunta guardada há tantos dias:
          - Afinal, o que você guarda de tão mágico dentro dessa mala que conseguiu modificar a sala em tão pouco tempo?
          - Podem olhar - respondo, abrindo o fecho.
          - Mas não tem nada aí! - comentam.
          - O essencial é invisível aos olhos. Aqui guardo o meu melhor.
          Todos ficam me olhando. Parecem estar pensando no que eu disse. Pego meu material, me despeço e saio.

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